os salários, em muitos casos, mal conseguem cobrir o custo de vida crescente.
Em Julho de 2023 escrevi a frase: "Ulisses promete 45 mil posto de Trabalho. So é skeci fla nhos me na Portugal."
Curiosamente, o desemprego parece ter diminuído, mas isso se deve em grande parte à emigração massiva de cabo-verdianos em busca de melhores oportunidades no exterior, especialmente em Portugal.
Ulisses Prometeu 45 Mil Postos de Trabalho... em Portugal?
Em 2016, quando Ulisses Correia e Silva subiu ao poder, a sua promessa de criar 45 mil postos de trabalho soava como uma lufada de ar fresco num país que já lidava com altas taxas de desemprego. Um compromisso audacioso, sem dúvida, mas que, para muitos, representava uma luz no fim do túnel. O tempo passou e a promessa, embora repetida ao longo dos anos, continua a esbarrar na realidade. Entretanto, um fenômeno interessante vem ocorrendo: a saída em massa de cabo-verdianos para Portugal em busca de melhores oportunidades. E foi aí que, num tom de brincadeira, me peguei pensando: "Ulisses prometeu 45 mil postos de trabalho, mas esqueceu de dizer que eram em Portugal!"
A situação no arquipélago não está fácil. O desemprego continua a ser uma dor de cabeça para muitas famílias, e o sonho de pleno emprego, prometido pelo governo, parece cada vez mais distante. Em vez disso, o que temos visto é uma verdadeira "fuga de cérebros" e de mão de obra para terras lusitanas. Com a recente flexibilização nas políticas de imigração em Portugal e a necessidade daquele país de preencher vagas em setores como construção civil, turismo e serviços, milhares de cabo-verdianos não pensaram duas vezes antes de fazer as malas e tentar a sorte por lá.
Ironicamente, enquanto Ulisses Correia e Silva reafirmava o compromisso de criar empregos em Cabo Verde, vimos um movimento contrário. Muitos profissionais cabo-verdianos, formados e experientes, abandonaram os seus postos de trabalho locais para tentar a sorte em Portugal, onde o mercado de trabalho, em certos setores, está a absorver a nossa mão de obra. Isso criou um efeito colateral preocupante em Cabo Verde: a saída de trabalhadores qualificados deixou algumas áreas carentes de experiência e competência. Em setores como a saúde, educação e até construção civil, há relatos de que pessoas menos preparadas foram forçadas a ocupar essas vagas, gerando insatisfação tanto entre os empregadores quanto entre a população que depende desses serviços.
Essa situação levanta uma questão intrigante: será que o governo não previu o impacto que a emigração em massa teria sobre o país? Profissionais como professores, enfermeiros e técnicos especializados, em vez de construírem suas carreiras em Cabo Verde, estão agora em Portugal, enquanto, por aqui, se nota uma queda na qualidade de alguns serviços. As reclamações não param de crescer, especialmente em áreas onde a falta de experiência pode ter consequências diretas na vida das pessoas. A promessa de "pleno emprego" parece, paradoxalmente, estar esvaziando ainda mais os setores que já eram frágeis.
Ao invés de uma grande mobilização interna para criar oportunidades ou incentivar o crescimento de setores estratégicos, o governo parece estar preso a promessas, enquanto o país perde a sua força de trabalho mais capacitada. A frustração é evidente, especialmente entre aqueles que decidiram ficar no país. Muitos se veem forçados a aceitar empregos, onde os salários, em muitos casos, mal conseguem cobrir o custo de vida crescente.
Claro, a realidade internacional e as dificuldades internas – como a pandemia e as secas persistentes – não podem ser ignoradas. Contudo, o que não podemos deixar de notar é que, enquanto Cabo Verde lida com suas limitações, Portugal tem se beneficiado da nossa força de trabalho. Profissionais qualificados, que poderiam estar ajudando no desenvolvimento do país, estão contribuindo para o crescimento econômico de outro.
Afinal, os 45 mil postos de trabalho prometidos estão sendo criados – só que não em Cabo Verde. Estão em Lisboa, Porto, Faro e nas muitas cidades portuguesas que têm aberto os braços para os nossos emigrantes. Uma promessa que, para muitos, só foi cumprida ao carimbar o passaporte.
por: Anilton Levy
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