Negam tributo aos mestres que formaram cultura e valores
I
No Átrio dos Vaidosos
Nos grandiosos salões, onde a pompa e vaidade se revela,
Com uma funda lançada, carregada de solicitações, um mistério ativo,
E fala à altura de um bico, com semblante fictício, que revela?
Como um bafo daninho que cresce e faz a terra enlameada,
A legião dos falsos eruditos se multiplica, sua grande vaidade,
Revestidos de brasões, a alma por troca é enredada.
Ó poeta, que paciência te é exigida, tu que pescas no vasto mar da indiferença e contemplas as respostas que jamais chegam,
E que a cada instante se tornam mais vastas e oceânicas.)
II
Salvam o homem solitário, falam de poetas e revoltas,
Eu lhes dou basaltos e altos gases, silêncios nas noites caladas,
Com aparência de sabedoria, adoram pastores e suas putas fedorentas e cultas.
Confundem ser e aparência, mas o direito a parecer é deles,
Vestem velhas roupas de grifes e gritos, promovidos por libertinos insensíveis,
Enquanto a essência do saber se oculta em melancolias e papéis.
Mas ter uma voz ativa que cativa até os fariseus enfadonhos,
Trilhar incessantemente a senda da sabedoria profunda e criativa,
É lançar sal em lançadeiras, “fogo” ao povo, pensamentos perigosos.
-Nho é prigozu homi.)
Quem reconhece a pequenez do gigante no vasto campo,
Ganha a eternidade do mundo, por seu saber constante e enorme,
Os incultos em tronos efêmeros devoram legados, um erro insensato.
III
Esses vultos são sombras pálidas, desprovidas de substância,
Vagam pela polis, cegos às águas da nação, cheios de dores,
Que nutrem a essência e entoam mistérios, sem respeito à verdade, sua importância.
Promovido por um pau mandado “humilde”,
Para que as senhoras dormissem,
No contrabando das ruas sem lei,
Esses comunistas de formação, perderam o coração,
Nem Giovanni Boccaccio em sua ironia ousava a feitura da cópia, abaixo da atadura).
Sem saber cultivar a flor da cultura, a cintura hábil que deve persistir,
Criam ideias frias e decretadas, sem compreender o ardor e calor dos meios,
Não compreendem o tributo dos grandes ao retornar,
Tratados com desdém, frieza da indiferença atroz,
Os titãs nas salas do poder são rouquidão de um vazio sem par,
Onde o nada tem candura em sua pura voz.
IV
Para aqueles que ouvem: cultivai a cultura,
E não o punho duro efêmero que se desfaz sem parar,
Sem alma nas artes, tradição e saber, não há futuro, senão a amargura.
Que se eslava nas almas puras e até nos pecadores,
Lá onde a afronta e a luz cansam de acender,
Mas o poema salva, restam sinais da arte, sem temores.
Mas em gestos e discursos, preservam respeito encantado,
Pela terra e pelo fogo, moldando bases divinas,
Sem a cultura, não há volta, o futuro é desmoronado.
Dos que, com alma e erudição, à verdadeira cultura servem,
Em uma outra guerra, de se fazer, com fervor,
Onde a essência e a compaixão fria nunca se perdem na (de)sordem.
Mário Loff
Resumo biográfico
Mário Loff, nascido no Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde, tem um histórico de fuga constante de sua própria identidade literária. Formado em História e Património pela universidade pública do país, ele se refugiou na cidade da Praia, onde se tornou uma sombra de si mesmo, perdido entre o desejo de fugir da escrita e a realidade crua da sua existência literária. Em vez de buscar a luz da fama, Loff mergulhou na obscuridade, onde a literatura o engoliu e o silêncio se tornou seu companheiro constante. Sua arte, uma força que o molda e o desafia, deve ser cultivada sem pressa, longe dos holofotes prematuros.
Rejeitando a ideia de ser uma figura divina ou uma estrela do Olimpo, ele vive suas tragédias pessoais em um quarto escuro, com o mesmo fervor com que se dedica às tragédias dos deuses. Com um prêmio Txon Poesia e dezenas de distinções internacionais em concursos de poesia e contos, Loff é um poeta e escritor cuja obra foi estudada e discutida em universidades brasileiras. Em 2017, foi convocado pelo CITCEM e pelo DCTP da Universidade do Porto para falar sobre o campo de trabalho de Chão Bom no Colóquio Internacional “A Glimmer of Freedom”. No ano seguinte, sua poesia foi destacada pelo Festival de Cinema da ESAP.
Recusa ser rotulado como historiador sem uma obra publicada, preferindo se afundar nas histórias e silêncios que compõem seus contos. Sua aceitação como poeta é mais um reflexo de uma batalha constante com as almas desavergonhadas e a crítica impiedosa, que considera uma validação de seu caminho. Loff encontra inspiração no desprezo e na crítica, vendo-os como provas de sua autenticidade e como um sinal de que está no caminho certo.
Em sua luta silenciosa, Loff continua a inventar divindades e mensageiras, e troca a escrita pela visão reinstituída de sua mãe cega, que lhe ensinou a ler e escrever. Ele é um provocador nato, desafiando a ordem e os deuses enquanto transforma cada crítica em combustível para sua arte.
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