A partida dos jovens cabo-verdianos: Reflexões sobre talentos perdidos e oportunidades a serem exploradas
A nossa Juventude rejuvenesce Portugal enquanto Cabo Verde envelhece
O fenômeno de Cabo Verde se tornando uma fonte de juventude para Portugal, enquanto envelhece, tem sido motivo de questionamento em minha mente. É uma situação complexa, mas que reflete uma realidade que observo ao meu redor. Muitos jovens cabo-verdianos estão deixando o país em busca de melhores oportunidades de vida em outros lugares, e Portugal tem sido uma porta de entrada para a Europa para muitos deles. É interessante como esse fluxo migratório tem impactado diferentes aspectos da vida e do futuro de nossa nação.
Vejo diversos jovens partindo em busca de um futuro promissor. Alguns buscam continuar seus estudos, mas infelizmente muitos não conseguem concluir essa jornada e acabam abandonando os estudos para ingressar no mercado de trabalho. É triste pensar que aqueles que sonhavam em retornar um dia para contribuir com seu conhecimento e formação em suas áreas de especialização, acabam criando raízes em terras estrangeiras e deixando para trás o desejo de voltar. É uma realidade que tem se mostrado desafiadora para muitos.
As barreiras burocráticas para obtenção de visto são um obstáculo significativo. É frustrante ver como é difícil conseguir um visto de entrada em outros países, enquanto Cabo Verde permite a entrada de estrangeiros de forma mais livre, cobrando apenas uma taxa para isso. Essa discrepância levou alguns a recorrer à compra de vistos, o que apenas evidencia as dificuldades enfrentadas por aqueles que desejam buscar oportunidades além de nossas fronteiras.
Recentemente, tenho notado que Portugal facilitou a entrada de trabalhadores estrangeiros, reconhecendo a necessidade de mão de obra e abrindo espaço para um grande número de cabo-verdianos. Muitos jovens, temerosos em relação ao futuro em Cabo Verde, enxergam nessa oportunidade uma forma de buscar melhores condições de vida. Embora Portugal não seja necessariamente a melhor opção em termos salariais e custo de vida, muitos aproveitam essa chance para dar um impulso inicial e, posteriormente, seguem para outros países da Europa.
É interessante notar que aqueles que partem são geralmente os mais dinâmicos, os que buscam algo melhor, os que não se conformam com a situação atual. São indivíduos que poderiam fazer grandes contribuições para nosso país, mas que acabam cegados pelo sonho de partir. É como se a ideia de uma vida melhor em outro lugar ofuscasse as oportunidades existentes em Cabo Verde, que para muitos parecem uma utopia distante.
Embora eu não seja especialista nessa questão, uma coisa é certa: estamos perdendo talentos valiosos. No entanto, também é importante reconhecer os esforços daqueles que partem e, mesmo assim, encontram maneiras de compartilhar seus sucessos e apoiar o desenvolvimento de Cabo Verde. Parabenizo aqueles que empreendem em sua terra natal, criando oportunidades para aqueles que resistiram e permanecem aqui.
Falando por mim, pessoalmente, enfrento certa dificuldade em me adaptar longe de minha terra natal. Minha alma sempre parece retornar, enquanto meu corpo permanece distante. É um sentimento inexplicável, uma conexão profunda com minhas raízes, minha cultura e minha identidade. A saudade de Cabo Verde é constante e a sensação de não pertencer plenamente onde estou é persistente.
No entanto, entendo que cada pessoa tem sua própria jornada e suas próprias escolhas a fazer. Não posso julgar aqueles que decidem partir em busca de um futuro melhor. Cada um tem suas motivações e circunstâncias únicas. A vida é uma busca constante por felicidade e realização, e muitas vezes isso implica em deixar para trás o que conhecemos em busca de algo mais.
Ao refletir sobre essa realidade, percebo que é fundamental valorizar os talentos e as contribuições da diáspora cabo-verdiana. Aqueles que encontraram sucesso e prosperidade em outros países têm muito a oferecer a Cabo Verde. Seja por meio de investimentos, projetos empreendedores ou compartilhamento de conhecimentos, eles têm o poder de impulsionar o desenvolvimento de nossa nação.
Ao mesmo tempo, devemos nos esforçar para criar condições favoráveis para que os jovens talentosos encontrem oportunidades dentro de nosso país. Isso implica em melhorar a qualidade da educação, promover o empreendedorismo local, desenvolver setores econômicos estratégicos e garantir um ambiente propício para o crescimento profissional.
É um desafio complexo, mas é preciso olhar para o futuro com esperança e determinação. Cabo Verde tem potencial, recursos e uma rica cultura que podem ser explorados e valorizados. Precisamos trabalhar juntos para criar um ambiente que incentive o crescimento e ofereça perspectivas reais para os jovens cabo-verdianos.
A circulação de pessoas, seja dentro de nosso país ou além de nossas fronteiras, é um fenômeno natural e inevitável em um mundo globalizado. Devemos buscar maneiras de facilitar essa mobilidade, reduzindo as barreiras e promovendo uma maior integração entre as nações. Todos deveriam ter a oportunidade de explorar novos horizontes, aprender com diferentes culturas e contribuir para o desenvolvimento de várias comunidades.
texto de Anilton Levy
COMMENTS