O caso da pequena Zaida foi simplesmente arquivado.
Tribunal de Mindelo
VERGONHA TEM NOME
E não é certamente a pequena Zaida, nome fictício para essa criancinha de 10 anos que aos 8 confessou envergonhadamente à mãe que era sistematicamente violada por um vizinho “pai da sua melhor amiga” a quem carinhosamente chamava “tio”.
A mãe apresentou queixa ao Tribunal mas qual foi o seu espanto quando, volvidos mais de dois anos, foi informada que o caso foi arquivado, isto é, que a juiza entendeu que não havia provas suficientes para levar o suspeito a julgamento.
O que deixou a mãe de Zaida confusa – e deixaria qualquer um – é como que a juíza encarregada do processo chegou à douta conclusão de que não havia provas, se nem ela nem a filha nunca foram tidas nem ouvidas e nem foram realizados exames periciais para anexar ao processo.
O caso da pequena Zaida foi simplesmente arquivado. A mãe, “de mãos amarrados” perante a (in)justiça do facto consumado não teve outra alternativa a não ser ir denunciar ao caso jornal local .
O jornal- Mindelinsite- afirma que contactou o Ministério Publico na esperança de obter mais informações sobre os motivos do arquivamento mas ao jornalista foi informado que a juíza responsável pelo processo estava “ocupada” numa formação. Para ver o despacho do arquivamento – que devia ser publico como manda a lei - o jornal terá sido informado que deve fazer um requerimento endereçado à juíza e aguardar pela decisão.
A VERGONHA DEVE MUDAR DE CAMPO
Como tantas outras crianças vitimas de violência sexual, Zaida vive traumatizada com o sucedido e de acordo com a sua mãe ate fala em suicídio. No fundo no fundo ate pode estar etr arrependida por partilhar a magoa com mãe, porque, no fim das contas, de nada valeu.
E essa criancinha de 10 anos, aluna de 20 valores que antes queria ser medica, agora diz que quer juíza no Tribunal. O sentimento de injustiça – aliado ao drama da denunciada violação sexual – acompanhá-la-a por toda a vida, ate porque o suposto violador é um “vizinho perto” que faz parte do seu dia-a-dia.
E como a mãe de criança de Santo Antão que era violada por sete homens que o Tribunal de Porto Novo decidiu deixar em liberdade, a mãe de Zaida também clama por justiça e ela não está só.
Muitas outras mães sentem a mesma dor e muitas outras crianças choram baixinho no leito do incesto e de outros tipos de abuso sexual. Muitas delas, por vergonha ou medo de expor os agressores – que muitas vezes é o pai, o sogro, o tio ou um vizinho próximo- muitas dessas crianças não denunciam o caso tambem por saberem que é a palavra delas contra a do agressor.
Mas se o Tribunal não acredita na palavra dessas crianças vitimas de abuso sexual, nós acreditamos. Zaida não esta só. Estamos com ela, assim como estamos com todas as crianças vitimas de violação sexual e de maus tratos. E não há que ter receio ou vergonha em denunciar, porque Zaira – e as restantes outras – não são culpadas. Sao vitimas.
São vitimas não só dos predadores sexuais mas também de um sistema de justiça que muitas vezes não funciona. A vergonha na realidade tem nome : São os violadores de serviço, mas é também a Justiça cabo-verdiana – e seus representantes - que por preguiça, desleixo ou cobardia deixam os agressores impunes, tornando-se cumplice desse crime imundo.
Já é tempo de mudar. Já é tempo de ouvir e de dar voz a essas crianças, mas também tempo de expor e de punir os violadores. Quem não o faz é cumplice. - fonte:ok
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