Considerar que se trata de um caso de INCOMPETÊNCIA E NEGLIGÊNCIA, em face do descrito é pouco
CARTA ABERTA ENVIADA AO MINISTRO DA SAÚDE PELA ESPOSA DO HOMEM QUE PERDEU A VIDA ONTEM POR COVID-19 DENUNCIANDO "NEGLIGÊNCIA E INCOMPETÊNCIA MÉDICA" ALGUNS DIAS ANTES DE AFONSO PERDER A VIDA
À Sua Excelência o Ministro da Saúde
Cidade da Praia
C/C.: Delegada de Saúde de Santa Catarina
Diretor da Região Sanitária -Santiago Norte
Diretor do Hospital Regional Santa Rita Vieira
ASSUNTO: Denúncia pela INCOMPETÊNCIA E NEGLIGÊNCIA
Eu, Carmelita Teixeira, residente em Nhagar, Santa Catarina, vim por esta via denunciar uma situação que considero de INCOMPETÊNCIA E NEGLIGÊNCIA ocorrida no Hospital Regional de Santiago, Santa Rita Vieira.
No dia 26 de agosto, acompanhei o meu marido à banca de urgência do referido hospital, por estar a sofrer fortes dores de cabeça.
No dia 29, voltamos ao hospital, com o mesmo problema de dores de cabeça, pedi à médica que o atendeu que lhe fizesse teste de coronavírus. Em resposta, ela disse-me que ele não apresentava sintomas de covid e que, a ser o caso, ela é que saberia e decidiria.
No dia 31, voltamos de novo ao hospital, disseram que era problema de tensão e que, eventualmente, o medicamento que ele vinha tomando, como hipertenso, não lhe estava a fazer bem. Disseram-me para ir buscar esse remédio para verem e ao verem disseram que estava bem.
No dia 02 de setembro, voltamos ao hospital, de madrugada, já com perda de capacidade de mobilidade, dando sinais de AVC. Puseram-lhe na observação, durante dois dias.
No dia 04, mandaram-lhe fazer Exame de TAC na Praia, num hiace, ainda que sem poder de mobilidade, alegando que a ambulância não estava disponível. Fomos à Praia e voltamos no mesmo dia.
De regresso da Praia, internaram-lhe na medicina, ficando no entanto, à espera da leitura do CD e do Relatório de TAC, que segundo disseram, este último (o Relatório) teria de vir de Portugal. No entanto, a leitura do CD, que seria feita por um Radiologista, esta só veio a ser feita no dia 9 do corrente, um dias antes da sua transferência para a Praia, ou seja 07 dias depois do TAC.
No dia 11, levaram-lhe, de novo, para a secção de urgência desse hospital. Qual foi o meu espanto, ao dirigir-me para a Banca de Urgência, um funcionário disse-me que ele estava na sala reservada aos suspeitos de covid e que eu não podia entrar.
Tendo essa informação, fiquei revoltada porque eu já os tinha pedido desde o dia 29, quando fomos ao hospital, pela 2ª vez, para lhe fazerem o teste de covid.
Com o agravar da situação, ele foi transferido para a Praia e agora confirmado que se trata de um caso de covid, estamos revoltados e a rogar por saúde dele.
É nesta sequência, e face ao quadro descrito, que denunciamos publicamente aquilo que consideramos ser um ATO DE PURA INCOMPETÊNCIA E NEGLIGÊNCIA, por parte dos médicos que o atendeu no Hospital Santa Rita Vieira e lhes atribuo TODA A RESPONSABILIDADE PELO ESTADO DE SAÚDE DO MEU MARIDO E, EVENTUALMENTE, PELA SUA MORTE e apelamos, veementemente, a quem de direito que tome as medidas severas que se impuserem, pois as INCOMPETÊNCIA E NEGLIGÊNCIA verificadas, num caso deste, redundam-se num ATO CRIMINOSO. Se não vejamos:
Do dia 26 de agosto, quando fomos ao hospital pela primeira vez, para o dia 11 de setembro, dia em que passaram a suspeitar do covid, são 15 dias.
Durante esses 15 dias, o meu marido esteve em casa com a família e no hospital, como qualquer outro doente normal, sendo 05 dias em casa (de 26 a 02) e 9 dias no hospital (de 02 a 11).
Quantas pessoas lidaram e aproximaram-se dele, incluindo os próprios médicos, enfermeiros e auxiliares?
Durante os 09 dias em que esteve internado em Assomada, ele esteve num quarto com mais cinco doentes e depois foi mudado para um outro quarto com mais cinco doentes internados. Que riscos foram submetidos esses doentes, pela INCOMPETÊNCIA E NEGLIGÊNCIA DOS MÉDICOS?
No dia 04 de agosto, ele foi mandado fazer TAC na Praia, apenas como um doente de AVC, num Hiace normal do hospital, acompanhado por alguns amigos, familiares e uma enfermeira.
Na clinica do TAC foi tratado como um doente normal. Que riscos aqueles que ali o atendeu correram?
Durante os dias em que esteve internado, ele recebeu visitas todos os dias de muitos amigos e familiares. Que riscos foram submetidas essas pessoas todas?
Durante o seu internamento em Assomada, eu, como esposa, o acompanhei todos os dias e noites, e um dia um amigo dele passou a noite com ele. Que riscos fomos submetidos?
No tempo em que estamos, porquê que desde a primeira hora, ou seja, no dia 26, quando o meu marido chegou ali com fortes dores de cabeça, o pessoal médico do Hospital Regional Santa Rita Vieira não teve o cuidado e a precaução de o submeter a teste?
Porquê que quando pedimos no dia 29, para lhe submeter a teste não tiveram o cuidado de nos ouvir? Porque?
Considerar que se trata de um caso de INCOMPETÊNCIA E NEGLIGÊNCIA, em face do descrito é pouco e, a avaliar pela gravidade, só podemos classifica-lo como um ATO CRIMINOSO. E como tal, não é de se deixar passar no silêncio e nem impunemente, pois a VIDA HUMANA, OU VIDAS HUMANAS, uma vez que dezenas de pessoas inocentes foram submetidas a riscos de vida, cuja consequência é esperar para ver!
Apelamos, veementemente, à Sua Excelência o Ministro da Saúde e às autoridades judiciais que tomem as medidas urgentes que se impuserem face à dimensão da gravidade do caso e levá-lo até às últimas consequências. Da nossa parte, estaremos dispostos a ir até às últimas consequências, pela reposição dos eventuais danos causados.
Cidade de Assomada, 15 de setembro de 2020
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