porque é que os artistas insistem a ser os únicos a doarem gratuitamente o seu talento?
Texto publicado por Abraão Vicente no facebook...
...artistas em tempo de Pandemia ...entre o streaming gratuito e a necessidade de criação de rendimentos...
Aos artistas pede-se tudo. Os artistas estão sempre disponíveis para ajudar, para dar a mão, para emprestar gratuitamente o seu talento por todas as grandes causas. Artistas e criadores são seres genuínos e generosos por natureza e vocação. Tal como em outras lutas e nas grandes crises, também na pandemia COVID-19, os artistas foram os primeiros a se disponibilizarem para fazer shows online, para disponibilizarem a sua arte GRATUITAMENTE ao mundo. Artistas em todo o mundo foram os primeiros a criarem iniciativas para recolha de fundos em prol dos hospitais e dos mais necessitados. Apesar dessa entrega há algo de que pouco se fala: os artistas e criadores são das classes mais afectadas por esta paragem mundial, por esta suspensão das nossas vidas.
A vida glamorosa do mundo da arte, do mundo do espetáculo e dos grandes eventos é apenas para alguns, não para todos os artistas e criadores. A grande maioria vive uma vida digna mas economicamente precária ao longo da vida. Uma vida ao sabor de altos e baixos, ao sabor dos picos do sucesso e da insensível cadência das tendências e das vontades de um punhado mínimo de players que dominam o mundo do negócio da cultura. Quem está neste mundo da cultura sabe de cor do que escrevo. A humanidade tem desperdiçado talentos e mais talentos. Aliás uma grande percentagem dos génios e almas excepcionais nunca chegam a conhecer os grandes palcos do mundo. E mesmo assim os artistas respondem sempre "pronto Humanidade" a todo e qualquer momento em que humanidade precisa de mais alma e necessita de se reencontrar consigo mesma.
Pergunto-me porque é que a generalidade das pessoas pensa que usufruir do talento e da arte de forma gratuita seja algo natural e normal. Não vejo engenheiros, arquitetos, doutores e experts em várias áreas, advogados e juristas, empresários e empreendedores a oferecerem os seus serviços gratuitamente em tempo de crise e pandemia. Não vejo supermercados a doarem alimentação gratuita a quem necessite, nem operadoras a oferecerem megas de streaming de forma gratuita especificamente aos artistas e criadores para os seus concertos online. Não vejo proprietários de casas e estúdios a isentarem os artistas dos alugueres e as operadoras de água e luz a perdoarem contas de luz aos artistas.
Mas porque é que os artistas insistem a ser os únicos a doarem gratuitamente o seu talento? Porque a generosidade e o engajamento com a humanidade faz parte da natureza dos criadores. É essa natureza que também faz com que muitos não se organizem financeiramente, tenham trabalhos onde recebem sem passar pelo sistemas de pagamentos de impostos e pelo desconto na segurança social. Como consequência final: muitos passam necessidades básicas apesar de um vida pública de “fama”, sucesso e palcos.
O meu questionamento é: deve o Estado apoiar os artistas no meio da pandemia? Minha resposta é um rotundo SIM! O estado tem o dever de, tal como faz com outras classes profissionais, criar programas específicos de apoio e criação de rendimento para a classe artístico. O estado deve também, por outro lado, promover a formalização das profissões ligadas às artes para por cobro à precariedade do sector. É por essa razão que o Governo de Cabo Verde está a apresentar um projeto de lei para socorrer os que comprovadamente ficaram sem rendimento, este mesmo projeto inclui um processo de formalização desses criativos com vista ao seu mapeamento pelas finanças e pelo sistema de segurança social. A informalidade só e apenas prejudica o artista e o criador. A formalização irá também ajudar-nos a ter a exata noção do peso do sector das cultura e das indústrias criativas no PIB nacional.
Também iremos lançar o programa “EmPalco100Concertos” que tem por objectivo promover 100 performances/concertos curtos online onde os artistas recebem um caché pelo seu trabalho. É preciso valorizar e remunerar os artistas pelo seu talento, pelo seu tempo e pela sua arte. Muito mais que promover a presença em rede dos artistas para o entretenimento puro dos cidadãos que estão em casa no sofá, essas dinâmicas em tempo de pandemia devem ser utilizadas como formas de criação de emprego e de rendimento para os artistas que sem palco e sem espaços físicos para atuarem ficaram sem a possibilidade de criar rendimento e sustentarem suas famílias. É simbólico mas passa a mensagem certa. Os artistas também são trabalhadores e têm conta para pagar. Sim, os artistas não vivem de ar e de sonho... os artistas também são pessoas normais que enfrentam no seu quotidiano as mesmas lutas pela dignidade de um vida em sociedade. Basicamente o que o governo está a fazer é pagar aos artistas pelo seu trabalho porque por detrás de cada artista está um pai ou mãe de família, está um cidadão que deve ter condições para viver dignamente do seu labor e das suas criações.
Uma sociedade é e será sempre avaliada pela qualidade e pela pujança da sua arte e da sua cultura. Será avaliada pela forma como a sua arte lhe representa e lhe confere alma. E se há um país no mundo que deve muito da sua notoriedade internacional à sua cultura e à qualidade dos seus artistas, esse país é Cabo Verde. Quem valoriza a sua cultura deve antes de mais começar por valorizar os seus artistas e os seus criadores.
Pela cultura como um bem essencial e básico na formação e consolidação das nossas sociedades!
...artistas em tempo de Pandemia ...entre o streaming gratuito e a necessidade de criação de rendimentos...
Aos artistas pede-se tudo. Os artistas estão sempre disponíveis para ajudar, para dar a mão, para emprestar gratuitamente o seu talento por todas as grandes causas. Artistas e criadores são seres genuínos e generosos por natureza e vocação. Tal como em outras lutas e nas grandes crises, também na pandemia COVID-19, os artistas foram os primeiros a se disponibilizarem para fazer shows online, para disponibilizarem a sua arte GRATUITAMENTE ao mundo. Artistas em todo o mundo foram os primeiros a criarem iniciativas para recolha de fundos em prol dos hospitais e dos mais necessitados. Apesar dessa entrega há algo de que pouco se fala: os artistas e criadores são das classes mais afectadas por esta paragem mundial, por esta suspensão das nossas vidas.
A vida glamorosa do mundo da arte, do mundo do espetáculo e dos grandes eventos é apenas para alguns, não para todos os artistas e criadores. A grande maioria vive uma vida digna mas economicamente precária ao longo da vida. Uma vida ao sabor de altos e baixos, ao sabor dos picos do sucesso e da insensível cadência das tendências e das vontades de um punhado mínimo de players que dominam o mundo do negócio da cultura. Quem está neste mundo da cultura sabe de cor do que escrevo. A humanidade tem desperdiçado talentos e mais talentos. Aliás uma grande percentagem dos génios e almas excepcionais nunca chegam a conhecer os grandes palcos do mundo. E mesmo assim os artistas respondem sempre "pronto Humanidade" a todo e qualquer momento em que humanidade precisa de mais alma e necessita de se reencontrar consigo mesma.
Pergunto-me porque é que a generalidade das pessoas pensa que usufruir do talento e da arte de forma gratuita seja algo natural e normal. Não vejo engenheiros, arquitetos, doutores e experts em várias áreas, advogados e juristas, empresários e empreendedores a oferecerem os seus serviços gratuitamente em tempo de crise e pandemia. Não vejo supermercados a doarem alimentação gratuita a quem necessite, nem operadoras a oferecerem megas de streaming de forma gratuita especificamente aos artistas e criadores para os seus concertos online. Não vejo proprietários de casas e estúdios a isentarem os artistas dos alugueres e as operadoras de água e luz a perdoarem contas de luz aos artistas.
Mas porque é que os artistas insistem a ser os únicos a doarem gratuitamente o seu talento? Porque a generosidade e o engajamento com a humanidade faz parte da natureza dos criadores. É essa natureza que também faz com que muitos não se organizem financeiramente, tenham trabalhos onde recebem sem passar pelo sistemas de pagamentos de impostos e pelo desconto na segurança social. Como consequência final: muitos passam necessidades básicas apesar de um vida pública de “fama”, sucesso e palcos.
O meu questionamento é: deve o Estado apoiar os artistas no meio da pandemia? Minha resposta é um rotundo SIM! O estado tem o dever de, tal como faz com outras classes profissionais, criar programas específicos de apoio e criação de rendimento para a classe artístico. O estado deve também, por outro lado, promover a formalização das profissões ligadas às artes para por cobro à precariedade do sector. É por essa razão que o Governo de Cabo Verde está a apresentar um projeto de lei para socorrer os que comprovadamente ficaram sem rendimento, este mesmo projeto inclui um processo de formalização desses criativos com vista ao seu mapeamento pelas finanças e pelo sistema de segurança social. A informalidade só e apenas prejudica o artista e o criador. A formalização irá também ajudar-nos a ter a exata noção do peso do sector das cultura e das indústrias criativas no PIB nacional.
Também iremos lançar o programa “EmPalco100Concertos” que tem por objectivo promover 100 performances/concertos curtos online onde os artistas recebem um caché pelo seu trabalho. É preciso valorizar e remunerar os artistas pelo seu talento, pelo seu tempo e pela sua arte. Muito mais que promover a presença em rede dos artistas para o entretenimento puro dos cidadãos que estão em casa no sofá, essas dinâmicas em tempo de pandemia devem ser utilizadas como formas de criação de emprego e de rendimento para os artistas que sem palco e sem espaços físicos para atuarem ficaram sem a possibilidade de criar rendimento e sustentarem suas famílias. É simbólico mas passa a mensagem certa. Os artistas também são trabalhadores e têm conta para pagar. Sim, os artistas não vivem de ar e de sonho... os artistas também são pessoas normais que enfrentam no seu quotidiano as mesmas lutas pela dignidade de um vida em sociedade. Basicamente o que o governo está a fazer é pagar aos artistas pelo seu trabalho porque por detrás de cada artista está um pai ou mãe de família, está um cidadão que deve ter condições para viver dignamente do seu labor e das suas criações.
Uma sociedade é e será sempre avaliada pela qualidade e pela pujança da sua arte e da sua cultura. Será avaliada pela forma como a sua arte lhe representa e lhe confere alma. E se há um país no mundo que deve muito da sua notoriedade internacional à sua cultura e à qualidade dos seus artistas, esse país é Cabo Verde. Quem valoriza a sua cultura deve antes de mais começar por valorizar os seus artistas e os seus criadores.
Pela cultura como um bem essencial e básico na formação e consolidação das nossas sociedades!
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