O nosso Cabo Verde é rico em intelectuais simples que se tornam anónimos.
O condutor segue-se esperançoso, mas não há passageiros pelo caminho. Chega em órgãos dá um tempo e nada! Ele mesmo diz: "kau sta msm mau".
Em Gudim, escuta-se o alarme de emergência. Pára o iace e passa uma ambulância com buzinha e "piska" à toda pressa, porém vai devagar!
E eu ali, acompanhando discretamente um diálogo interressante entre o condutor e o ajudante de iace.
Condutor: Esse carro de emergência não tem como socorrer o doente ou acidentado em estado grave, pois vai devagar que qualquer iace passa pelo caminho.
Ajudante: pois, deveriam então "arranjar" um iace turbo que seria melhor.
Condutor: Mas, como se eles só querem carros doados?!?!
Ajudante: é, em CV precisamos de um helicóptero para salvar vidas. Imagina uma ambulância com essa capacidade a transportar um doente de Tarrafal para Praia.
Condutor: o doente morre só de rodar curvas.
Talvez se pensassem até num túnel seria melhor porque nas nossas estradas há muita curva o que deficulta muito.
Ajudante: túnel não seria possível, pois cruzariam com água pelo caminho.
Condutor: Ae!
Ajudante: é, na nossa terra há muita água subterrânea só precisam explorá-la. É uma pena que não pensam nisso!
Em São Domingos para o carro e entram dois passageiros. Um deles reclamando do "aforramento" da parede, pois acha que deveriam investir o montante em algo mais importante que está a falhar.
Em Achada São Felipe, encontramos o pessoal na manutenção da estrada, construíndo quebra-molas com pavimentos numa estrada asfaltada!!!!
O ajudante observador diz: Pensei que tivessem terminado ontem. E pergunta: será que estão a fazer mais alto? Ontem não tinham terminado?
O condutor complementa: trabalho do nosso CV. Francamente!
O ajudante num tom sério chama atenção aos trabalhadores: ei, é melhor fazerem de alcatrão, pois esse pavimento vai durar pouco tempo.
Retorquiu: sinceramente, só não entendo o porque do uso das pedras na manutenção de uma estrada asfaltada. A viação deveria intervir melhor no que tange a manutenção.
Entra em ação a cidade barulhenta e a parou conversa entre os dois.
Nesse silêncio fiquei pensando e vieram-me a mente duas perguntas:
1- Será que o dinheiro investido nos festivais e Carnaval daria para comprar um helicóptero para transportar doentes evacuados entre ilhas e concelhos do nosso CV?
2- Como é possível uma parturiente suportar a tamanha dor no percurso interminável, Tarrafal/Praia para realizar uma cesariana?
Esse diálogo entre os dois mostra-nos que:
▪O nosso Cabo Verde é rico de intelectuais simples que se tornam anónimos.
▪Os nossos governantes precisam pensar mais grande, precisam pensar nas condições que salvam vidas, em fim precisam e muito da EMPATIA.
Vieira Fatima Ramos
COMMENTS