É a alma por detrás de “Sodade, a musica mais ouvida de Cabo Verde...
PAULINO É A ALMA ...
Eugénio Tavares, B.Léza , Bana, Cesária Évora e Paulino Vieira.
Sem estes cinco vultos maiores da musica cabo-verdiana a morna jamais passaria de folclore local, jamais teria essa projeção internacional que culminou esta semana com a nobre elevação a Património Imaterial da Humanidade...Mas se nesta hora de jubilo e de alegria nacional se exalta os quatro primeiros , esquece-se, contudo, do contributo inestimável que Paulino de Jesus Santos Vieira, único sobrevivente do grupo, deu na evolução e projeção daquela que é considerada a musica rainha de Cabo Verde.
O GÉNIO MALDITO
“Mandaram-me um convite (para colaborar no projeto da candidatura da Morna a Património da Humanidade) que não aceitei. E respondi porque não aceitei : Porque a morna está defraudada “.
Paulino Vieira, numa entrevista numa radio local em Portugal em janeiro passado, explicava dessa forma, por que razão não apoiava a ideia de ver a morna Património Mundial, notando antes disso a morna teria que ser “resgatada e restaurada”. Para o autor de “Nkria ser Poeta” e de “Um Minute D'Silence”, o espírito e a originalidade da morna teriam sido sacrificados no altar da “world music” em nome de interesses obscuros e “mafiosos” que transformaram este estilo musical (e a musica de Cabo Verde em geral) num barco à deriva, “sem rumo sem direção’.
É esta, e outras posições polémicas deste filho de Praia Branca, que tornaram Paulino Vieira numa espécie de génio maldito, tanto para muitos de seus colegas músicos como da própria elite dirigente. Será também por isso que ele não é chamado neste momento de consagração da morna, ele que contudo revolucionou a morna como mais ninguém.
“A MORNA E UMA DÁDIVA DE DEUS”
E se a morna é uma dádiva de Deus como ele próprio diz, Deus deu a Paulino Vieira esse dom inato da genialidade, esse poder misterioso de transformar qualquer som em arte, rompendo com os limites do seu tempo e da sua própria condição de ilhéu...
...Génio é aquele que tem o poder geral da criação artística, quebrando padrões e extrapolando a ordem, criando e recriando, e abrindo caminho a partir dos quais outros recomeçam. Paulino Vieira é tudo isso, e muito mais. A partir dos fins dos anos 70, em Portugal, uma série de grupos e artistas se inspiraram nas suas inovações para fazerem suas próprias reinvenções da musica tradicional cabo-verdiana.
Para além de ser o compositor de algumas das mornas mais belas do cancioneiro cabo-verdiano, ao autor de “Nha Primero Lar “e de “Arca Azul” se deve os arranjos de centenas de outras mornas, primeiro como líder incontestado do “Voz de Cabo Verde’ e depois como produtor individual.
Multi-instrumentista (piano, violão, cavaquinho, clarinete, harmónica, percussão...) e exímio orquestrador, o génio de Paulino Vieira está por detrás dos maiores êxitos do rei Bana e do sucesso mundial de Cesária Évora , a quem projetou 3 álbuns ( La Diva aux Pied Nus- 1982, Distino de Belita-1990 e Mar Azul -1991) e os mais conseguidos concertos de Diva , que para afinal para ele nunca foi Diva.... Alias, Paulino sempre disse que não tocava com a Cesária, mas sim que a é Cesaria que cantava com ele, e ate certo ponto pode ter razao porque se a Cesaria é o rosto visível da morna, Paulino é a alma. .
... É a alma por detrás de “Sodade, a musica mais ouvida de Cabo Verde que o maestro diz que afinal não é morna; É a alma por detrás da mais sublime compilação de mornas ( “Mornas de Cabo Verde”) e é também a alma por detrás de “Paz, Amor e União”, um álbum que por si só define esse estilo musical cabo-verdiano.
“PRECE DE UN FIDJE “
E se a morna tem origem divina como diz o mestre, era também da vontade divina difundir este “som cósmico” por todos os recantos do universo...
Paulino Vieira a isso dedicou sua vida, e na hora da consagração é justo que se reconheça o valor e o enorme contributo deste grande visionário na afirmação e valorização da morna. Porque, independentemente das polémicas, independentemente das suas posições perante a morna e a sua historia, Paulino Vieira é o maior símbolo vivo da mornalidade. É por isso, e por outras razões, que no dia da comemoração oficial da morna como Património Imaterial da Humanidad, Paulino Vieira devia estar presente.
Não em Mindelo, onde viveu parte da sua vida, mas na Boavista onde ele nasceu. Boavista que, até prova em contrario, é o berço da morna abençoada . fonte:ok
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