Não somos ingénuos, para entendermos que os EUA, ao tomar essa iniciativa, não o fez sem acautelar os seus próprios interesses.
O acordo de cooperação militar entre os EUA e Cabo Verde não deve ser encarado com ligeireza, com cegueira e nem com pre-conceito ideológico . Antes, é uma matéria que tem raízes mais profundas do que parece à superfície.
Em primeiro lugar, Cabo Verde tem de longe mais território marítimo do que terrestre . De longe mesmo . Nós não temos meios para assegurar a proteção do território terrestre, quanto mais do território marítimo . Os nossos meios, nesta matéria, são zero.
Os nossos mares são invadidos, segundo em segundo, por muitos países e nem damos conta disso . Somos um país completamente desprotegido . A pirataria nos nossos mares é
um cassubody internacional e com meios altamente sofisticados.
Neste momento, não temos a mínima ideia se existem riquezas no nosso território marítimo e quais os recursos que possuímos . E se existem, não sabemos que tipo de riquezas?
Não sabemos e com os meios que temos, nunca o poderemos saber . Mesmo não sabendo a riqueza que ele possui, esse território é nosso e de mais ninguém . E esse território deve ser protegido e defendido .
Sobretudo agora que se fala de economia marítima, como uma estratégia a ser prosseguida e explorada . Não tenho ideia no que é que isto vai dar, mas sempre o mar tem riquezas naturais e recursos potenciais.
Com certeza que nem todos os países têm meios nem capacidade para ajudar Cabo Verde a proteger o seu extenso território marítimo . E nenhum outro país manifestou esse interesse . Até ao momento, apenas os EUA estenderam-nos as mãos nessa matéria.
Não somos ingénuos, para entendermos que os EUA, ao tomar essa iniciativa, não o fez sem acautelar os seus próprios interesses. Evidentemente que sim. E nem se esperava coisa diferente .
Nós não imaginamos os estudos classificados já feitos, ao longo de anos, sobre a posição estratégica de Cabo Verde, localizado no cruzamento do Atlântico e a escassos kilómetros do continente africano, espaço onde se verifica ameaças terroristas sem limites.
A nossa posição geo-estratégica é uma grande riqueza . Riqueza politica, econômica e também civilizacional. Se considerarmos que somos o único país da costa ocidental africana que é cristão e maioritariamente católica, onde reina a paz, a estabilidade politica e o sistema democrático funciona tranquilamente.
O terrorismo é uma ameaça planetária, na qual nenhum país ou sistemas democráticos ficam de fora. É claro que o combate a esse flagelo mundial não é e não pode ser só dos EUA. Pequenos e grandes países firmam acordos para melhor se defenderem dessa terrível ameaça, que parece não ter fim.
Diria, que algum país, um dia, teria que nos ajudar a proteger os nossos territórios (terrestre e marítimo) . Não sei quais são as contrapartidas Seria interessante que, a par do acordo de cooperação militar, viesse algum acordo para nos ajudar a investigar e explorar o nosso mar . Os EUA estão na primeira fila das tecnologias . E podem nos ajudar imensamente.
Os mais cépticos sobre esse acordo de cooperação militar dirão: vamos perder a nossa soberania, não vamos ter jurisdição sobre os militares americanos no nosso território, será um risco grande ...etc, etc...
Vejamos o caso de Portugal, concretamente os Açores. Que efectivamente é um caso diferente do nosso . Nos Açores existiu uma base militar americana, por longos anos e quando os EUA decidiram que íam sair, os portugueses rezaram para que não saíssem . Pois, a economia dos Açores ganhou muito.
Entretanto, Portugal, neste caso, não houve perda de soberania. Nem os Açores perderam a “soberania”.
É claro que, nesses tipos de acordos, podem verificar-se ganhos e perdas. Contudo, as perdas não são significantes . Penso que são mais pre-conceitos.
Cabo Verde não pode armar-se em senhor Chico esperto, pensando que só pode receber ajudas dos outros, estar sempre a pedir e a estender as mãos, e quando lhe é pedido alguma colaboração, algum acordo, finge que assobia para o lado e desaparece.
Em escalas menores, no tempo de Pedro Pires, este aceitou da Espanha receber os guerrilheiros da ETA ; no tempo do José Maria Neves, receberam os prisioneiros do Guantánamo . Bem fizeram esses governantes e o país nunca sofreu um ataque, por causa disso.
Analisem muitos outros acordos feitos por EUA, especialmente com a Alemanha, Portugal, Japão e França, etc, e vejam se as cláusulas dos acordos não são similares ou do mesmo género.
Cabo Verde como um país pobre e dependente da cooperação internacional, não pode estar a fechar-se e a dar costas, quando é chamado a dar a sua pequena colaboração.
Publicado por Maika Lobo, no facebook
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