Era num tempo de juventude, que vezes sem conta gritávamos quando fazíamos sexo com o único objectivo de fazer ciúmes a nossa vizinhança.
Vieram os nossos filhos da cidade, os netos, amigos, e alguns vizinhos amigos. Eu com a mão presa na mão da minha querida senhora, recordávamos das coisas que já superamos, as dificuldades da vida o tempo que namorávamos, os barrulhos do nosso sexo selvagem, antes de casarmo-nos namoramos durante quinze anos, como ela é bonita ainda amo ela como se fosse aqueles dias que tem estado a repetir em todos esses anos, conheci ela no dia das festividades do município.
Olhos cientes na cara, pele castanha feito chocolate suíço, pareciam pingar a cor da primeira mulher nascida na África, ao ritmo daquele calor infernal eu a assistia sem perder o ritmo do corpo feroz que bailava no vento e na música de Frank Mimita.
Ela de pele insistentemente molhada algum deus loco de suor morava na sua pele de sagrada de aléo e vera. Dançava no meio da multidão e eu aproximava dela e a encarrando enquanto dançava.
A música podia demorar tempo que for, eu estava decidido a ficar ali aguardando ela terminar de dançar, mesmo que demorasse até o fim dos nossos dias. Estava decidido a dize-la que ela perdeu toda a sua solidão e a sua solteirice, é que jamais iria andar ao lado da solidão, e eu passarei a ser a tua companhia para a vida toda. Disse para ela ensaiando.
Sempre fui um jovem de sonhos e um dos meus sonhos é amar uma grande mulher e que sabe apostar no amor e no homem que a ama, esta mulher me ama e eu jamais a negarei este amor que nunca há-de acabar, até hoje estou saqueando os seus lábios, sua paciência e os olhos da minha santa senhora depois de vinte e cinco anos casados.
A festa já estava quase no fim e o discurso dito em pompa e circunstancia ao ritmo de Mane.com e grogue de trinta anos, alguns convidados já tinham partido, só ficou nós dois e os nossos dois filhos e o nosso neto.
Ao amanhecer despedimos dos nossos filhos e voltamos para a nossa vida pacata, vida de quem a pela é a casa de rugas e menopausa interior, mas ainda os nossos corpos pediam aquilo de temor e tremor. Logo que entramos eu comecei a beijar a minha mulher e ela a me beijar, sem sentir a pele que já não é de outros tempos, os nossos cabelos grisalhos, os nossos joelhos parecia que falavam connosco, poderíamos fazer outras coisas, mas, naquele momento estávamos felizes em nosso paraíso, reinventamos o nosso mundo depois de dois anos sem fazer amor.
Cansamos muito, como se a vida teria chegado ao fim, mesmo com os gritos fingido e sem aquele tom de outros tempos. Depois do amor tremula e de sacrifício, depois de dizermos oooh e esticarmos as nossas flatulências lembramos dos anos atrás que toda a vizinhança sabia que na noite anterior tínhamos feito. O Amor.
Durante dia ou a noite, e estávamos expectantes para sair à rua só para saber a reacção dos vizinhos, que ficavam ouvindo os gritos da minha mulher dentro do nosso quarto que ainda tem o mesmo odor do seu cabelo.
Noutro dia ao sair à rua e com muita vontade de observar a atitude dos nossos vizinhos, reparei que ninguém dava atenção a mim e a noite de amor que tinha tido com a minha mulher. Ninguém mais liga à importância do grito de um amor antigo.
O tempo passa e não sentimos, o som dos gritos mudam com o tempo e a própria voz muda dentro de nós e nem percebemos que o vento na cara é aviso de que passam os dias e outros ventos na cara quando é sinal de que teremos de mudar ou renovar. Há muito tempo que as crianças e os jovens da nossa rua já são outros e o tempo passou e as suas próprias caras já são de outros formatos, eu é que amei sem prestar atenção nos outros a não ser na minha mulher e meus filhos. Olhando para a minha cara no espelho conclui que envelheci e os vizinhos já não vão ter ciúmes e muito menos dar valor às nossas gritarias quando fazíamos amor. Agora só nos falta comemorar a menopausa e de vez em quando uns diazepam.
Mario Loff
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