Texto de Paulo Varela, de Tarrafal de Santiago
... E acabei por encontrar meu amigo de infância, aquele que até pensei andar desaparecido, mas não, apenas vive uma crise, um momento frágil de sua existência.
... E acabei por me encontrar com o Nhu Bedju, símbolo do nosso Carnaval... Quando vinha numa Hiace algures entre Praia e Assomada. Enquanto Nhu Bedju cumpria seu ritual simpático, cumprimentando os passageiros com apertos de mão e o abanar da cabeça, concordando com tudo o que dizem as pessoas, ia esfregando o dedo polegar ao indicador querendo com este gesto dizer alguma coisa que ninguém queria entender e cada um assim simulava conversa com o passageiro do lado ou se distraia com seu telefone.
Neste breve momento, surge uma voz feminina entre os ocupantes do nosso transporte público que já fazia mais de uma hora com os passageiros a bordo, para uma viagem de 25 minutos; é que o modelo experimental da ECOBUS, ainda não está ajustada ao chip do Badio de Santiago, por isso teremos que esperar pela próxima iniciativa e enquanto isso vamos nós viajar pela Ilha sem horários de partida nem de chegada ... e diz assim a senhora: "Anhós, nhos ka teni dinheiro di bai kumpra maskra la china" .... Achei interessante esta expressão que no fundo retrata um pensamento que está generalizado, ou seja, muitos dos nossos concidadãos partilham desta mesma forma de pensar e agir - preferindo comprar o importado nas lojas do que aderir ao desafio da criatividade através da reciclagem e do aproveitamento daquilo que estiver à nossa disposição, valorizando a arte de fazer e despertar nas crianças a ideia de olhar ao seu redor e aproveitar seu potencial. Logo, viajei ao tempo em que os trabalhos manuais eram uma disciplina curricular no ensino básico, em outros países, conhecido como Educação Laboral. Faz Falta.
Finalmente, percebi porque é que Santiago, particularmente, ficou de fora na escolha do governo para a festa do CARNAVAL, é que nem nós mesmos, do povo, não nos identificamos com a nossa expressão característica carnavalesca. O Nhu Bedju é uma das nossas figuras do Carnaval em via de desaparecimento. Alguém ajude por favor salvar nosso Nhu Bedju.
São Vicente à poucos anos foi buscar os mandingas às origens Africanas e soube trabalhar este produto que hoje é reconhecido e arrasta multidões e conta a nossa história lá nas origens, quando ainda não éramos CaboVerdianos, contudo, a figura do Nhu Bedju, pode ser resgatada e posta a contar nossa história e vivência quotidiana do homem de Santiago, na sua simplicidade, dificuldades, desafios e sonhos. Venha a nós, também, o vosso Reino!
Paulo Varela
Veja tambem: Tarrafal: Nem o proprio Carnaval Escapou à evolução
COMMENTS