O Hip Hop quando é bem usada e expressada contribui para uma sociedade melhor, conheço pessoas que melhoraram suas vidas por causa do Rap
1 - Quem és tu?
Sou um Rapper/MC James Tha Costa.
2 - Porque não Esmael Borges da Costa mas sim, James Tha Costa?
… (risos), James é o nome que desde infância os meus amigos me puseram e me chamam nas ruas do meu bairro Ponta Gato, já houve tempo que cheguei a recusar o nome, mas vi que não conseguia evitar, até cheguei a brigar com colegas por causa desse nome (risos), mas hoje uso esse nome com o meu último apelido dando assim o meu nome artístico ´´James Tha Costa``, esse é o meu nome da cultura Hip Hop.
3 - Qual é o equívoco que pessoas cometem quando falam de ti?
Sou tão discreto que ainda não reparei nisso, sou um homem de paz.
4 - O que é que estás a fazer neste momento?
Neste momento estou a trabalhar o meu novo vídeo clip da faixa musical ´´Nu Marxa`` que faz parte do meu primeiro álbum intitulado The Real MicroPhoneLife-II, também estou a preparar o meu grande show, para comemorar uma década da minha carreira no movimento Hip Hop, e quero assegurar que seja um grande show.
5 - O que é a música?
Para mim a música é uma fonte da inspiração para a vida, e é uma terapia de grande valor.
5 - Como entraste no mundo da música?
Desde criança fui apaixonado pela música Rap, comecei a ouvir Rap no ano 2000 através da Rádio Nova (emissora que difunde a partir da ilha de São Vicente), entrei na música em 2004 pelo convite do meu grande amigo Doc.V de São Jorge dos Órgãos, quando estudávamos em Santa Catarina na cidade de Assomada com a idade entre os 15 e os 16 anos. Ele sabia que eu tinha aquelas inclinações pelo movimento Hip Hop, me disse que conhecia um rapper chamado Dja Rull de Assomada que fazia excelentes músicas Rap, logo aceitei e fomos ter com ele para saber mais sobre a música Rap. Nunca esqueci do conselho dele ´´Homi ka ta pega na mikrofoni pa imita erros di homi``. Ele nos baptizou como um grupo de nome ´´Apontamento``, nos dizia que na música Rap devemos apontar as coisas erradas e corretas, que aconteciam à nossa volta e não só. Naquela época tínhamos algumas músicas prontas, mas não chegamos a gravar nenhuma delas, e só em 2005 é que conseguimos gravar acerca de 4 músicas na casa do nosso amigo Mister M, já ali, tínhamos mudado o nome do grupo para ´´Death Row``. Foi impressionante da minha parte ouvir a minha voz na música pela primeira vez… (risos).
6 - Em relação a hoje! Ainda achas que aquela tua primeira letra musical foi uma grande canção?
As minhas primeiras letras musicais foram um ´´fracasso``, porque ainda me lembro em Assomada que sofria de ´´bowling`` por parte dos colegas que gozavam comigo, me chamavam de ´´kabali``, ´´fracu``, mas eu nem dava importância para os que gozavam comigo porque sabia que eu estava a aprender e sei que era um aprendiz, sobretudo usei essa minha fraqueza para corrigir os meus erros e fracassos e sobretudo calar algumas bocas, Mas também havia colegas que nos incentivaram a fazer Rap, colegas que gostavam daquelas músicas. Essas letras e músicas foram grandes e importantes, porque ajudou-me a formar a minha base musical para que hoje eu possa ter e manter essa consistência.
7 - Como um amante da arte do Hip Hop, diga-nos qual é o seu conceito de hip hop?
Hip Hop é uma cultura urbana universal, que geralmente é expressada através de elementos como o Brak Dance, MC/Rapper, a Arte do Graffiti, DJs, Beatbox, a Linguagem e conhecimento das Ruas como um estilo de vida consciente, reconhecemos a nossa influência na sociedade especialmente nas crianças e nos mais jovens. A essência do Hip Hop está além do entretenimento.
8 - Desde as primeiras canções efectivadas aqui em Cabo Verde, sobretudo na década de noventa até hoje, como avalias a prestação dos rappers, a nível do uso das melodias e as letras?
Da década de noventa até hoje, houve muita melhoria a nível do uso da melodia e das letras. Principalmente na ilha de Santiago, a maioria dos Rappers, agora já perceberam o valor da música Rap, antes eram temáticas carimbadas ao ´´beef`` coisa que os Rappers mais se preocupavam em fazer e transmitir e sobretudo á procura de uma fama fácil e vazia. Mas hoje, isso não traz nenhum tipo de vantagem e privilégios para a cultura Hip Hop. Hoje em dia o Rap Kriolu é a música mais criativa e rica feita aqui em Cabo Verde. E com provas dadas sendo ela cada dia uma riqueza que salva a vida.
9 - Qual foi o seu momento alto na carreira e o momento baixo na carreira?
De 2004 para cá estou a apreciar e a saborear o momento mais alto da minha carreira, e ainda sei que sou capaz de atingir um nível mais alto, sabendo que não irá ser fácil, por isso continuo trabalhando neste propósito e na não desistência, Hip Hop é luta contra desistência.
O momento mais baixo da minha carreira foi quando passei por muitas dificuldades na minha vida, passei momentos que tinha quase a certeza de nunca mais fazer o que eu amo, que é a arte do Rap, e isso fazia-me sentir fraco e me destruía espiritualmente.
Graças a Deus tenho os meus amigos e familiares que me apoiavam e apoiam, e até hoje estou feliz recuperado cada vez mais e com mais força, e para o que der e vier. Nessas circunstâncias é que conhecemos quem realmente nos apoia e quem realmente não nos apoia. Ainda me lembro de uns ´´falsos amigos`` que faziam sucesso com um vídeo-clip, perguntavam-lhes o preço do vídeo-clip e me diziam que era 80 mil escudos cv. O que era uma pura mentira tendo em conta que na verdade custava entre os 15 e 20 mil escudos cv, não queriam que eu fizesse um trabalho daquela qualidade. Graças a Deus neste ano o meu vídeo-clip da música ´´Vítimas di Ruas`` com a produção de Otu Level Studio que conta com a participação de Leidy Évora, é um dos vídeos mais exibidas e transmitida pelas televisões nacionais.
10 - O que é preciso ainda ser feito para que o Hip Hop tenha mais espaços e seja cada vez mais aceite em Cabo Verde?
Comparando à 10 ou 13 anos atrás o Hip Hop já conquistou muitos espaços em Cabo Verde, mas só que esses espaços não são suficientes, ainda é preciso muito trabalho. É preciso palestras, workshops, programas televisivos, programas radiofónicos, que informam aos cabo-verdianos o valor da cultura Hip Hop e a sua influência na sociedade. Também, é preciso que os Rappers, produtores, DJs e outros elementos da cultura preocupem em executar um trabalho de mais qualidade, que os organizadores/promotores dos eventos valorizem o mundo dos hiphopers, porque um trabalho de qualidade tem o seu custo. A união faz a força e a força da cultura Hip Hop é imparável.
11 – Achas que o Hip Hop é uma arma para melhorar a sociedade ou para machuca-la?
O Hip Hop quando é bem usada e expressada contribui para uma sociedade melhor, conheço pessoas que melhoraram suas vidas por causa do Rap, e ai sim, é uma arma que destrói o mal. Quando ela é mal usada, ou seja, quando ela é expressada sem a sua observação e o uso do essência e o conhecimento, acaba por machucar a própria cultura e a sociedade que muitas vezes torna vitima de todo este sistemas que gira a volta da cultura hip hop.
12 – Como avalias a sua experiência de ter um álbum em CD e ser comercializado aqui em Cabo Verde e na Diáspora?
Foi uma excelente experiência fazer um produto e ser comercializado aqui em Cabo Verde e na diáspora sem nenhum contrato com as editoras, é uma satisfação enorme quando as pessoas se interessam em comprar um CD meu, mesmo sabendo que hoje em dia as vendas dos CD´s já não dão muito lucro, fiz isso porque queria fazer um trabalho diferente daquilo que fazia antes, e saber se o meu trabalho será valorizado ou não, é aí que conheces quem realmente valoriza o teu trabalho, isso não significa que o trabalho dum artista só é valorizada quando é comprada. Nunca tinha previsto vender CD´s na diáspora, mas aconteceu porque a diáspora pediu e senti obrigado a fazer mais cópias para enviar para a diáspora, e fiquei feliz e grato por isso. Aproveito desde já para agradecer todas as pessoas que compraram o meu CD em Cabo Verde e na diáspora, foi mesmo motivador sabendo que após os CD´s esgotarem teve pessoas procurando e com vontade de adquiri-los, e isso me fez sentir muitíssimo satisfeito, e isso significa que o meu trabalho não teve preço, mas sim teve o seu valor. Não foi um álbum com estilo comercial e nem veio com temas da moda, mas sim os conteúdos do álbum tem a ver com as pessoas, é um álbum muito centrado no sentimento humano. O álbum já se encontra para o freedownload disponível no meu site: www.jamesthacosta.wix.com/jamesthacosta, também ali vão encontrar os meus Mixtape antigos.
13 – Tiveste patrocínios ou tudo foi da sua conta própria?
Realmente tive patrocínios, foi muito difícil encontrar patrocinadores mas graças a Deus encontrei patrocínios, e graças aos patrocinadores que o meu álbum teve de sair no formato físico e no formato digital no iTunes e nas outras lojas online.
14-Quem participou neste seu último trabalho discográfico¬¬?
Neste meu último trabalho discográfico, teve as participações dos seguintes produtores (Beatmakers): Adilson Carvalho (A. Carvalho), Nelisson Araújo (Bandida Beatz) da cidade da Praia, Dj Letra de São Vicente, Djony Borges um tarrafalense residente na ilha do Maio, Bochebeatz da cidade do Tarrafal e Tony Setter dos EUA. A nível vocal teve as participações de: Herman Macedo, Ghetto Nee, Uzy, Leidy Évora, Loreana Vicente, Murral, Djito Vaz, Nyunne Ntafty e Odaiz.
15 – Hoje em dia consegue-se viver com os lucros das vendas do álbum? Consegue-se sustentar com a música?
(risos) Com toda essa pirataria globalizada, para não dizer impossível digo que é muito difícil viver e sustentar só com a música aqui em Cabo Verde. Mas sim consegue-se alimentar o trabalho, por exemplo com os lucros dos CD´s vendidos investi nos vídeo-clips, não se consegue viver da música mas consegue-se aperfeiçoar melhor nos trabalhos futuros com esses pequenos lucros, mas os shows é que mais dão ajuda nessas situações.
16 – Neste momento quem é o seu artista e quais as tuas dez (10) melhores no Hip Hop?
Neste momento o meu artista preferido é o Rapper afro-americano Nas.
Os meus dez (10) melhores no Hip Hop são: Nas, Buddha, Jay-Z, Kex-1, Dj Letra, Expavi, Azagaia, Hélio Batalha, Kid MC e o Nuyne Ntafty.
17 – Quem foi que o influenciou no teu estilo musical?
No início da minha carreira tive uma forte influência dos Rappers como: Nas, Jay-Z e Buddha. Mas hoje já criei o meu próprio estilo musical, agora criei e tenho a minha própria marca e identidade na música.
18 – Qual é o teu próximo projecto musical? Quando vai estar disponível o seu próximo álbum?
O meu próximo projecto, sei que vai ser grande do que o actual em termos da musicalidade, e a qualidade vai ser ainda melhor. Quando tiver uma data exacta vou anunciar o meu próximo álbum, ainda estou a trabalhá-lo com toda calma do mundo, e será um álbum que vai entrar na história do Hip Hop Kriolu, digo isso porque sinto isso todos os dias, quando coloco as mãos e ponta dos dedos nela, os poetas dizem que toda grande arte sai, primeiro pela ponta dos dedos. Agora estou focado na promoção do meu mais recente álbum, e estou a gostar como as coisas estão acontecendo e flui livremente sem esforçar a barra.
19 – Você é um artista tarrafalense de sucesso e com mais sucesso no momento, já actuaste em vários palcos nacionais, até já estiveste no maior festival nacional (Festival da Gamboa). Porquê é que nunca actuaste no maior festival da tua linda e querida cidade Tarrafal (Festival di Nhu Santo Amaro Abade)?
(risos) Essa é uma questão que mais as pessoas me colocam. Eu atuo em qualquer tipo de palcos ou eventos, mas não atuo em palcos ou eventos onde o pessoal não tem o mínimo respeito pelos artistas. O poder local não tem a capacidade de gerir a cultura no município, não valorizam os artistas locais, não nos dão a verdadeira oportunidade de se sobressair, não nos promovem e querem sempre tirar o proveito dos talentos locais. Muitos dos meus colegas do Hip Hop actuaram nesse festival porque para além de serem talentosos, têm de desdobram em migalhas para pedirem favores ou receber e dar palmadinha nas costas, sobretudo implorar, tudo bem conseguiram. Mas fica a questão. Foram ou sentiram valorizados? Mas concordo que é necessário ter qualidade musical. Mas não os julgo por isso, porque esse é o único caminho em que os Rappers local conseguem safar-se sabendo que não têm representantes ou produtores, só que não sigo o mesmo caminho, eu tenho os meus princípios e sou fiel aos meus princípios, sinto-me muito bem e confortável quando me convidam e valorizam o meu trabalho, não ponho os meus pés onde não nunca fui chamado pelo meu nome, e não são os esses palcos que me fará ser um artista, são os meus ouvintes e o meu trabalho. Quero e sei que vou estar lá por mérito próprio como o grupo The Ghoust, e a maior prova da minha qualidade foi ter actuado num dos maiores festivais de música de Cabo Verde. Gamboa.
20 – Conta-nos como foi a sua experiência ao actuar pela primeira vez num dos maiores festivais do país, Festival da Gamboa!
Era numa quinta-feira 12 de Maio de 2016 entre as 9 horas e as 10 horas da manhã, recebi um telefonema de alguém que disse, sou o Sr. Guggas Veiga. Perguntou-me se estava a falar com James, logo disse que sim, ele me perguntou se estou disposto a actuar no Festival da Gamboa Jovem, logo disse que sim, e ele me disse que tinha pessoas que falaram com ele sobre min, por isso procurou o meu número para ligar. Quando terminamos a conversa e desliguei o telemóvel, na verdade nem acreditava e pensei que estava sonhando, que o maior produtor do país me ligou. Pensei em ir para cama dormir depois para voltar a realidade (risos). Como ele dizia que me ligaria no fim-de-semana para confirmar outros assuntos comigo, esperei, quando chegou no Sábado ele me ligou de verdade, foi ali que realmente acreditei mesmo. Foi uma experiência excelente actuar naquele palco de grande nível e dimensão, gostei da forma como eles se relacionam e tratam os artistas, o público foi excelente e sou grato por tudo aquilo.
21 – Livro preferido?
Roots (Raízes) e o Poder Está Dentro de Si.
22 – Qual autor que descobriu e de que gostou e qual autor que ainda não descobriu que gostarias de descobrir?
Gostei de ter descoberto o Paulo Coelho e o Augusto Cury. Gostaria de descobrir mais autores africanos, mas autores que escrevem sem censura literária.
23 – Qual é a tua cor preferido?
Azul (Baby Blue)
24 – Quem mais mal fez ao mundo?
O Homem
25 – Como querias ser lembrado?
Queria ser lembrado do que como sou, um simples Africano que valoriza a sua identidade.
26 – País preferido? Além de Cabo Verde.
Egipto! Pelas suas riquezas históricas.
27 - Já magoaste alguém e que nunca tiveste a chance de pedir desculpas?
Não, sempre que sinto que magoei alguém peço logo desculpas e perdão. Não me sinto bem sabendo que magoei alguém e não pedi desculpas.
28 – O que é a vida?
Quando vejo para os olhos pequenos da milha filha, imagino um livro limpo sem nenhum traço e letras, é um livro pronto para ser escrita, e a vida é assim um livro para ser escrita e a minha bela e linda filha tem sido uma fonte de inspiração para interpretar a vida e escreve-la bem.
Dexan Sabi
Provacultura
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