ela fala de tudo e sem complexos, mas nunca aceita que ela é uma puta, mas sim uma prostituta
Conversa com uma Prostituta Cabo-verdiana
Primeira Parte
Esta entrevista foi realizada no Dia Internacional da Mulher, com o intuito de revelar um lado muitas vezes escondido da sociedade, mostrando a realidade de uma mulher que optou pela prostituição. A entrevistada, que preferiu não se identificar, fala de sua vida sem complexos, mas faz questão de diferenciar-se como prostituta, não puta. Esta é a primeira parte da entrevista provocativa.
Por razões de segurança e conforme combinado, não perguntarei o seu nome verdadeiro. Podemos chamá-la de Maria Madalena para esta entrevista.
Maria Madalena, conte-nos um pouco sobre você, o que faz e quais são seus planos para o futuro.
Eu sou natural de Tarrafal de Santiago, nasci no Tarrafal na zona de... Saí muito cedo para a Praia e depois para outras ilhas, onde conheci muitas pessoas e realidades diferentes. Sou prostituta, mas no futuro próximo quero sair dessa vida.
Por que não quer revelar o local onde nasceu?
Não quero ser reconhecida.
Por quê?
Apesar de ser discreta, não quero que alguém me reconheça.
Então, o que você faz atualmente?
Sou prostituta.
Prostituta?
Sim.
Você fala disso de forma tão natural.
Desde que não divulguem o meu nome, não vejo problema.
Então, você se define como prostituta e não como puta. Qual é a diferença para você?
Para mim, uma puta e uma prostituta são a mesma coisa. Mas acho que a verdadeira "puta" é aquela que se esconde atrás de uma máscara de santidade, mas nas sombras faz coisas piores. Pelo menos, todos sabem o que fazemos, e nisso somos mais leais. Além disso, pago impostos (risos). Brincadeira.
Como você entrou nessa vida?
Entrei nesta vida há mais de sete anos. Eu tinha um namorado, mas não gostava de socializar, enquanto ele adorava me apresentar para as pessoas. Estava cansada de viajar por causa do trabalho do meu pai. Um dia, percebi que os homens reparavam muito no meu corpo, e isso despertou minha curiosidade de experimentar algo fora do meu relacionamento. Gostei, e estou nessa vida até hoje.
E o seu namorado? O que aconteceu com ele?
Ele viajou para Portugal para estudar, e aproveitei para mudar completamente de vida.
Então, você trocou a vida de "santa misteriosa" pela de prostituta, ou melhor, puta?
Já disse que não sou puta. Sou prostituta. Mas se quiser chamar assim...
Quem foi o primeiro homem com quem se relacionou?
Foi uma figura conhecida deste país.
Quem?
(risos) Acha que vou dizer?
Era jovem, velho, ou assim-assim?
Já estava meio velho.
Ele usou Viagra?
(risos) Não, não usou.
Foi bom?
Foi diferente, mas comparado com o que já fiz até hoje, prefiro os de agora.
Então, você melhorou muito?
Claro. Descobri que é melhor se relacionar com homens importantes que garantem meu nível de vida. Uma mulher como eu, sem luxo, não se atrai. Acho que sou linda e consigo atrair homens.
Você se considera uma prostituta profissional?
Se você acha que é isso...
Tem clientes fiéis?
Sim, tinha. Agora sou fixa de uma só pessoa.
Que sorte, hein?
Não é sorte, é trabalho. É preciso saber agradar um homem, cuidar de si mesma e ser discreta para se relacionar com esse tipo de homem.
Já se envolveu com figuras públicas deste país?
(risos) Bastante.
Já teve ministros como clientes?
(risos) Vou te matar com essas perguntas.
Quantos parceiros você já teve até hoje?
Mais de 100 homens, entre jovens, velhos, cotas, figurões.
Que apetite, mulher!
Você se sente feliz nesta profissão?
Às vezes sim, às vezes não. O que mais me marca é a tristeza ocasional que essa vida traz.
Você sente saudades da sua família?
Minha família está fora de Cabo Verde. Só eu e meu irmão mais novo estamos aqui. Tenho outros parentes aqui, mas não mantemos contato.
Seu irmão sabe o que você faz?
Não, ele nem faz ideia. Mora com a esposa.
Já trabalhou em casas de prostituição?
Não trabalhei, mas recebi convites. Conheço essas casas, mas gosto da minha liberdade e de fazer as coisas do meu jeito.
Como você faz e fazia seus programas?
Frequento lugares finos na capital, tenho amigos e amigas que também fazem isso. Às vezes, saio com pessoas para fora da Praia por alguns dias. Turistas ricos entram em contato comigo através de outras pessoas que já estiveram comigo. Já atendi no Sal e, no dia seguinte, à noite, em Santiago.
Isso dá dinheiro?
Para mim, dá algum dinheiro. Mas as coisas não são como antes.
Qual foi a maior quantia que você já ganhou em um dia ou semana?
O dia que me lembro foi numa época de final de ano. Um português me pagou vinte mil escudos em um dia e me ofereceu cem mil escudos por uma semana.
Você se considera cara?
Não sei, mas essa vida vicia. Todos os dias, quem entra nisso quer sair, mas não consegue.
Já pensou em se casar?
Às vezes, mas acho difícil encontrar alguém que aceite meu passado. E, sinceramente, não estou pronta para abrir mão da minha independência.
Você tem amigos próximos?
Tenho algumas amigas na mesma profissão, e algumas fora dela, mas é difícil manter relações profundas. Muita gente não entende ou aceita meu estilo de vida.
Como é sua relação com seus clientes?
Alguns se tornam amigos, outros são apenas clientes. Tento ser profissional e manter as coisas claras. Às vezes, desenvolvemos uma relação de confiança e amizade, mas sempre há um limite.
Você já se apaixonou por algum cliente?
Já senti atração, mas paixão é complicado. Tento separar bem as coisas para não me machucar e nem machucar ninguém.
O que você acha do julgamento da sociedade sobre sua profissão?
A sociedade é hipócrita. Muitos criticam, mas usam nossos serviços. Acho que as pessoas deveriam ser mais abertas e menos julgadoras. Estamos fazendo um trabalho como qualquer outro.
Você tem algum arrependimento?
Algumas vezes, sinto falta de uma vida mais comum, mas não me arrependo das escolhas que fiz. Cada experiência me trouxe onde estou hoje.
Qual o momento mais difícil que você já enfrentou nessa vida?
Quando uma das minhas amigas foi agredida por um cliente. Foi um momento muito duro, que me fez repensar muitas coisas. A violência é um risco constante na nossa profissão.
O que te motiva a continuar?
A independência, a liberdade financeira, e a possibilidade de um dia poder sair dessa vida com segurança. Tenho planos e sonhos que quero realizar.
Qual é o seu maior sonho?
Ter uma vida tranquila, talvez abrir meu próprio negócio, algo que não esteja relacionado com a prostituição. Quero uma vida estável e segura.
O que você diria para alguém que está pensando em entrar nessa vida?
Pense bem nas consequências, nos riscos e nas responsabilidades. Não é uma vida fácil e muitas vezes é solitária. Mas, se decidir entrar, esteja preparada e faça de forma segura.
Você acha que a sociedade vai mudar sua visão sobre a prostituição?
Espero que sim. Acho que com mais educação e conscientização, as pessoas podem aprender a respeitar nossas escolhas. Mas é um processo longo e difícil.
Qual mensagem você gostaria de deixar para as mulheres no Dia Internacional da Mulher?
Sejam fortes e independentes. Lutem pelos seus direitos e não deixem que ninguém defina quem vocês são. Cada mulher tem sua própria história e merece ser respeitada.
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