Cabo Verde não tem onde cair morto. Contudo, se olharmos para os salários milionários que, abusivamente, se praticam para enriquecer uma elite que gravita à volta do poder
Um País Pobre que, em vez de Produzir Riquezas, Produz Ricos
Economicamente, Cabo Verde não tem onde cair morto. Contudo, se olharmos para os salários milionários que, abusivamente, se praticam para enriquecer uma elite que gravita à volta do poder, dá impressão que pertencemos ao grupo dos G8.
Nos países do terceiro mundo, em que as economias de mercado raramente funcionam, o surgimento de ricos é um indicador fiável do aumento da bolsa de pobreza, na medida em que, não havendo crescimento económico assente na produção, a riqueza das elites, próximas do poder, provém ou deriva dos recursos do Estado que não são canalizados para o melhoramento da qualidade de vida da população mais vulnerável.
Os fracos recursos do país são, descaradamente, desviados para sustentar as mordomias e garantir os salários milionários à classe privilegiada da nossa sociedade, enquanto temos famílias numerosas a passar necessidades, inclusive fome, crianças desnutridas mendigando pelas ruas das nossas cidades, homens e mulheres envelhecidos pela fome e não pela idade, prisões superlotadas de jovens marginalizados pelo próprio sistema, enfim, uma verdadeira maldição que tomou conta deste país devido à falta de seriedade na gestão dos recursos públicos disponíveis.
Para quem acompanha atentamente o dia-a-dia no país, nomeadamente a evolução da pobreza no meio rural das ilhas com vocação agrícola, e nas periferias dos maiores centros urbanos, o cenário é catastrófico! Angústia e desencanto espelhados nos rostos dos mais velhos, ladeados por crianças e jovens em idade laboral, sem emprego, sem chuva e sem qualquer esperança, encaram o dia-a-dia como um autêntico calvário.
Como é possível termos indivíduos auferindo salários milionários num país que vive mendigando junto da comunidade internacional, cujo salário mínimo nacional de 11.000$ é para inglês ver, dado que o próprio Estado não o tem vindo a cumprir. Por outro lado, temos centenas de pessoas idosas a viver duma pensão social de 5.000$. O assistencialismo é um método eficaz, utilizado para manter as pessoas subjugadas. É exactamente o que está acontecendo neste país. Não existe qualquer interesse em libertar as pessoas da pobreza, na medida em que a vulnerabilidade da população favorece os interesses político-partidários. Em contrapartida, cria-se elites próximas do poder, cujo estilo de vida reflecte uma falsa imagem socioeconómica do país.
Apesar de existirem leis que regulam tal prática, os gestores de Instituições Públicas estabelecem benefícios e regalias para sí próprios. Para que os leitores tenham uma ideia da dimensão deste descaramento, a seguir vou enumerar alguns exemplos de salários milionários auferidos por “insiders” do sistema, e considerado um verdadeiro atentado aos princípios consagrados na Constituição da República, que define os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Não dá para acreditar que:
O PCA dos TACV (empresa deficitária) ganha 630.000$00, + reforma 128.000$00, viaja de borla, viatura do Estado, combustível, telefone, etc., etc.
O PCA da Caixa Económica ganha 643.712$00 + viatura do Estado, combustível, telefone, etc. etc.
O Administrador Executivo da Caixa Económica ganha 345.149$00, + viatura do Estado, combustível, telefone, etc., etc.
O PCA dos Correios (empresa em vias de extinção) ganha 271.000400, + regalias.
O PCA do Novo Banco (tecnicamente falido) ganha 460.000$00, + regalias.
O PCA do IFH ganha 270.000$00, + regalias.
O PCA da ASA ganha 337.000$00, mais regalias.
O PCA da RTC ganha 205.000$00, + regalias.
O PCA da ENAPOR vai ganhar 600.000$00, + uma série de regalias.
O PCA do Clauster (não sei de quê) vai ganhar 575.000$00 + uma série de regalias.
O PCA da CV Telecom (empresa pouco séria) ganha 500.000$00 + regalias.
O Administrados Executivo do BCA ganha 356.371$00, + regalias.
O Governador do Banco de Cabo Verde ganha 474.000$00 + regalias.
O PCA da Bolsa de Valores (????) ganha 550.000$00 + regalias.
O PCA da Cabo Verde Investimentos (????) ganha 551.000$00, + regalias.
O Administrador Executivo da Cabo Verde Investimentos ganha 441.000$00.
O PCA do INPS (cuja sustentabilidade é duvidosa ) ganha 275.000$00 + regalias.
O Administrador Executivo do INPS ganha 253.000$00 + regalias.
Os Conselheiros do Presidente da República, Presidente da Assembleia Nacional, Primeiro-Ministro, ganham 151.118$00 + regalias.
Os Directores de Gabinete do Presidente da República, Presidente da Assembleia Nacional e Primeiro- Ministro ganham 151.118$00 + regalias.
O PCA da ARFA ganha 285.000$00, viatura do Estado + regalias
O Administrador Executivo da ARFA ganha 241.000$00 + regalias.
O PCA da ARAP ganha 220.000$00, viatura do Estado + regalias.
O Administrador Executivo da ARAP ganha 200.000$00, + regalias.
O PCA da AMP ganha 280.000$00, viatura do Estado mais regalias.
O Administrador Executivo da AMP ganha 250.000$00 mais regalias.
O PCA da ANAC ganha 285.000$00, viatura do Estado + regalias.
O Administrador Executivo da ANAC ganha 241.000$00, viatura do Estado + regalias.
O PCA da AAC ganha 285.000$00, viatura do Estado + regalias.
O Administrador Executivo da AAC ganha 241.000$00 + regalias.
Caros leitores, isto é apenas a ponta do grande iceberg.
Vejamos agora os salários pouco dignificantes atribuídos a classes profissionais sensíveis, caso dos Médicos, dos Magistrados, da Polícia Nacional, dos Professores, da Polícia Judiciária, etc., profissionais esses cujo trabalho tem, de longe, maior impacto na sustentabilidade do país, do que aquilo que andam a fazer os titulares de salários milionários.
Coitados dos membros do Governo e dos Deputados. Apanharam por tabela pelo facto de nunca se terem posicionado contra este fenómeno, levando ao Parlamento um Projeto de Lei no sentido de disciplinar e regular a política salarial do país, apesar de termos Deputados que, além dos salários, recebem reformas de conto e muitos contos. Temos por exemplo os casos do Basílio Mosso Ramos, Rui Semedo, etc. Esses privilegiados não têm a real noção da dimensão da responsabilidade acarretada pelo cargo que desempenham.
Conscientes deste “crime” institucionalizado, os eleitos da Nação limitaram-se a calar e aguardar a oportunidade certa para se servirem do Parlamento em benefício próprio. Só que desta vez as coisas deram para o torto. Além de profundamente fragilizados, passaram a ser considerados indignos.
Pessoalmente, defendo uma revisão profunda do sistema salarial nacional, no sentido de adequar os salários à realidade económica e social do país. Ninguém é obrigado a aceitar determinado cargo se não concorda com o salário correspondente. Quem quer ganhar fortunas, que vá trabalhar e produzir no sector privado.
Em Cabo Verde, devido às dificuldades que temos em nos libertar da pobreza, os salários deviam ser indexados ao salário mínimo nacionalmente instituído, por ser a única referência disponível.
As coisas não podem continuar como estão. Trata-se de uma inconstitucionalidade grave, propositadamente ignorada pelos poderes políticos com interesses obscuros.
O povo começa a nutrir sérias dúvidas em relação ao custo/benefício desta nossa “DEMOCRACIA”. Será que vale a pena?
Aquele abraço de fraternidade a todos.
Mindelo, 13 de Abril de 2015.
Por: Alcindo Amado, alcindoamado@hotmail.com fonte:asemana
Economicamente, Cabo Verde não tem onde cair morto. Contudo, se olharmos para os salários milionários que, abusivamente, se praticam para enriquecer uma elite que gravita à volta do poder, dá impressão que pertencemos ao grupo dos G8.
Nos países do terceiro mundo, em que as economias de mercado raramente funcionam, o surgimento de ricos é um indicador fiável do aumento da bolsa de pobreza, na medida em que, não havendo crescimento económico assente na produção, a riqueza das elites, próximas do poder, provém ou deriva dos recursos do Estado que não são canalizados para o melhoramento da qualidade de vida da população mais vulnerável.
Os fracos recursos do país são, descaradamente, desviados para sustentar as mordomias e garantir os salários milionários à classe privilegiada da nossa sociedade, enquanto temos famílias numerosas a passar necessidades, inclusive fome, crianças desnutridas mendigando pelas ruas das nossas cidades, homens e mulheres envelhecidos pela fome e não pela idade, prisões superlotadas de jovens marginalizados pelo próprio sistema, enfim, uma verdadeira maldição que tomou conta deste país devido à falta de seriedade na gestão dos recursos públicos disponíveis.
Para quem acompanha atentamente o dia-a-dia no país, nomeadamente a evolução da pobreza no meio rural das ilhas com vocação agrícola, e nas periferias dos maiores centros urbanos, o cenário é catastrófico! Angústia e desencanto espelhados nos rostos dos mais velhos, ladeados por crianças e jovens em idade laboral, sem emprego, sem chuva e sem qualquer esperança, encaram o dia-a-dia como um autêntico calvário.
Como é possível termos indivíduos auferindo salários milionários num país que vive mendigando junto da comunidade internacional, cujo salário mínimo nacional de 11.000$ é para inglês ver, dado que o próprio Estado não o tem vindo a cumprir. Por outro lado, temos centenas de pessoas idosas a viver duma pensão social de 5.000$. O assistencialismo é um método eficaz, utilizado para manter as pessoas subjugadas. É exactamente o que está acontecendo neste país. Não existe qualquer interesse em libertar as pessoas da pobreza, na medida em que a vulnerabilidade da população favorece os interesses político-partidários. Em contrapartida, cria-se elites próximas do poder, cujo estilo de vida reflecte uma falsa imagem socioeconómica do país.
Apesar de existirem leis que regulam tal prática, os gestores de Instituições Públicas estabelecem benefícios e regalias para sí próprios. Para que os leitores tenham uma ideia da dimensão deste descaramento, a seguir vou enumerar alguns exemplos de salários milionários auferidos por “insiders” do sistema, e considerado um verdadeiro atentado aos princípios consagrados na Constituição da República, que define os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Não dá para acreditar que:
O PCA dos TACV (empresa deficitária) ganha 630.000$00, + reforma 128.000$00, viaja de borla, viatura do Estado, combustível, telefone, etc., etc.
O PCA da Caixa Económica ganha 643.712$00 + viatura do Estado, combustível, telefone, etc. etc.
O Administrador Executivo da Caixa Económica ganha 345.149$00, + viatura do Estado, combustível, telefone, etc., etc.
O PCA dos Correios (empresa em vias de extinção) ganha 271.000400, + regalias.
O PCA do Novo Banco (tecnicamente falido) ganha 460.000$00, + regalias.
O PCA do IFH ganha 270.000$00, + regalias.
O PCA da ASA ganha 337.000$00, mais regalias.
O PCA da RTC ganha 205.000$00, + regalias.
O PCA da ENAPOR vai ganhar 600.000$00, + uma série de regalias.
O PCA do Clauster (não sei de quê) vai ganhar 575.000$00 + uma série de regalias.
O PCA da CV Telecom (empresa pouco séria) ganha 500.000$00 + regalias.
O Administrados Executivo do BCA ganha 356.371$00, + regalias.
O Governador do Banco de Cabo Verde ganha 474.000$00 + regalias.
O PCA da Bolsa de Valores (????) ganha 550.000$00 + regalias.
O PCA da Cabo Verde Investimentos (????) ganha 551.000$00, + regalias.
O Administrador Executivo da Cabo Verde Investimentos ganha 441.000$00.
O PCA do INPS (cuja sustentabilidade é duvidosa ) ganha 275.000$00 + regalias.
O Administrador Executivo do INPS ganha 253.000$00 + regalias.
Os Conselheiros do Presidente da República, Presidente da Assembleia Nacional, Primeiro-Ministro, ganham 151.118$00 + regalias.
Os Directores de Gabinete do Presidente da República, Presidente da Assembleia Nacional e Primeiro- Ministro ganham 151.118$00 + regalias.
O PCA da ARFA ganha 285.000$00, viatura do Estado + regalias
O Administrador Executivo da ARFA ganha 241.000$00 + regalias.
O PCA da ARAP ganha 220.000$00, viatura do Estado + regalias.
O Administrador Executivo da ARAP ganha 200.000$00, + regalias.
O PCA da AMP ganha 280.000$00, viatura do Estado mais regalias.
O Administrador Executivo da AMP ganha 250.000$00 mais regalias.
O PCA da ANAC ganha 285.000$00, viatura do Estado + regalias.
O Administrador Executivo da ANAC ganha 241.000$00, viatura do Estado + regalias.
O PCA da AAC ganha 285.000$00, viatura do Estado + regalias.
O Administrador Executivo da AAC ganha 241.000$00 + regalias.
Caros leitores, isto é apenas a ponta do grande iceberg.
Vejamos agora os salários pouco dignificantes atribuídos a classes profissionais sensíveis, caso dos Médicos, dos Magistrados, da Polícia Nacional, dos Professores, da Polícia Judiciária, etc., profissionais esses cujo trabalho tem, de longe, maior impacto na sustentabilidade do país, do que aquilo que andam a fazer os titulares de salários milionários.
Coitados dos membros do Governo e dos Deputados. Apanharam por tabela pelo facto de nunca se terem posicionado contra este fenómeno, levando ao Parlamento um Projeto de Lei no sentido de disciplinar e regular a política salarial do país, apesar de termos Deputados que, além dos salários, recebem reformas de conto e muitos contos. Temos por exemplo os casos do Basílio Mosso Ramos, Rui Semedo, etc. Esses privilegiados não têm a real noção da dimensão da responsabilidade acarretada pelo cargo que desempenham.
Conscientes deste “crime” institucionalizado, os eleitos da Nação limitaram-se a calar e aguardar a oportunidade certa para se servirem do Parlamento em benefício próprio. Só que desta vez as coisas deram para o torto. Além de profundamente fragilizados, passaram a ser considerados indignos.
Pessoalmente, defendo uma revisão profunda do sistema salarial nacional, no sentido de adequar os salários à realidade económica e social do país. Ninguém é obrigado a aceitar determinado cargo se não concorda com o salário correspondente. Quem quer ganhar fortunas, que vá trabalhar e produzir no sector privado.
Em Cabo Verde, devido às dificuldades que temos em nos libertar da pobreza, os salários deviam ser indexados ao salário mínimo nacionalmente instituído, por ser a única referência disponível.
As coisas não podem continuar como estão. Trata-se de uma inconstitucionalidade grave, propositadamente ignorada pelos poderes políticos com interesses obscuros.
O povo começa a nutrir sérias dúvidas em relação ao custo/benefício desta nossa “DEMOCRACIA”. Será que vale a pena?
Aquele abraço de fraternidade a todos.
Mindelo, 13 de Abril de 2015.
Por: Alcindo Amado, alcindoamado@hotmail.com fonte:asemana
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