Cabo Verde já não é o mesmo. Temos mais energia, mais gente, mais comida, mais morabeza, mais infra-estruturas, mais escolas…
Anilton Levy
12 De Setembro de 2014
Dear Cabral, quem fala aqui é um das várias pessoas que, hoje, usufruem da liberdade pela qual lutou.
Cabo Verde já não é o mesmo. Temos mais energia, mais gente, mais comida, mais morabeza, mais infra-estruturas, mais escolas …
Mas também temos mais corrupção, mais gentes pobres e miseráveis, mais violência, mais nepotismo e mais cegueira. Uma grande parte do meu povo sofre de catarata (quem sabe crónica), e confesso que vejo Cabo Verde crescendo cada vez mais. Crescendo em mentiras e ilusões, mas também desenvolvendo positivamente em parte, tenho de admitir.
Até pouco tempo, também eu sofria de catarata, mas acredite, acordei, e não pretendo dormir. Acordei, e confesso que o que vi me surpreendeu! Vi pessoas a passarem fome, a vasculharem o lixo em busca do que comer, vi o meu povo investindo na violência, e o pior é que vi as autoridades a varrerem tudo para baixo do tapete, e mais, a troçarem da sorte de cada um. Como dizem os Rapaz 100 Juiz, eles não vêem o nosso sofrimento, suas casas têm vista para o mar, para o infinito.
Sabe o que realmente precisamos hoje? Precisamos de mais um Cabral. Desejo que o senhor pudesse vir e lembrar o meu povo do porque que o senhor morreu. Não estou insinuando que tenha morrido em vão, de jeito algum, já não mais somos escravos, ou pelo menos não do jeito que costumávamos ser…
Escrevo, com o objectivo de ser ouvida, somos muitos que precisamos de voz é verdade, e talvez isto é apenas mais uma “Karta pa Kabral”, que vai para o lixo após ser lida, mas pelo menos posso descarregar parte deste fardo, pois sei que tentei.
Mas o meu povo não quer ouvir, que fazer? Só resta mesmo é escrever, na expectativa de que o senhor possa ter escutado, esteja onde estiver, e que Cabral, Pai da liberdade que hoje desfrutamos, liberdade esta que lhe custou a vida, possa mais uma vez vir abrir os olhos do povo que tanto amou.
Não mais vou prolongar esta carta, pois se viesse cá reclamar de tudo o que tenho visto, acredite apenas uma carta não chegaria, mas despeço, desejando-lhe mais um ano de descanso, e que a terra lhe tenha sido leve durante estes anos, e que continue a ser, pois o senhor, tal como Martin Luther King, merece!
De uma filha que só quer fechar os olhos e ao abrir, e não acordar num pesadelo. Pesadelo este, que o futuro revela vir a ser.
Com amor, Márcia
"KARTA PA KABRAL" - passatempo criado po Sapo Musika e Rapaz 100 Juiz, teve 2 vencedores, Márcia e 12 De Setembro de 2014
Dear Cabral, quem fala aqui é um das várias pessoas que, hoje, usufruem da liberdade pela qual lutou.
Cabo Verde já não é o mesmo. Temos mais energia, mais gente, mais comida, mais morabeza, mais infra-estruturas, mais escolas …
Mas também temos mais corrupção, mais gentes pobres e miseráveis, mais violência, mais nepotismo e mais cegueira. Uma grande parte do meu povo sofre de catarata (quem sabe crónica), e confesso que vejo Cabo Verde crescendo cada vez mais. Crescendo em mentiras e ilusões, mas também desenvolvendo positivamente em parte, tenho de admitir.
Até pouco tempo, também eu sofria de catarata, mas acredite, acordei, e não pretendo dormir. Acordei, e confesso que o que vi me surpreendeu! Vi pessoas a passarem fome, a vasculharem o lixo em busca do que comer, vi o meu povo investindo na violência, e o pior é que vi as autoridades a varrerem tudo para baixo do tapete, e mais, a troçarem da sorte de cada um. Como dizem os Rapaz 100 Juiz, eles não vêem o nosso sofrimento, suas casas têm vista para o mar, para o infinito.
Sabe o que realmente precisamos hoje? Precisamos de mais um Cabral. Desejo que o senhor pudesse vir e lembrar o meu povo do porque que o senhor morreu. Não estou insinuando que tenha morrido em vão, de jeito algum, já não mais somos escravos, ou pelo menos não do jeito que costumávamos ser…
Escrevo, com o objectivo de ser ouvida, somos muitos que precisamos de voz é verdade, e talvez isto é apenas mais uma “Karta pa Kabral”, que vai para o lixo após ser lida, mas pelo menos posso descarregar parte deste fardo, pois sei que tentei.
Mas o meu povo não quer ouvir, que fazer? Só resta mesmo é escrever, na expectativa de que o senhor possa ter escutado, esteja onde estiver, e que Cabral, Pai da liberdade que hoje desfrutamos, liberdade esta que lhe custou a vida, possa mais uma vez vir abrir os olhos do povo que tanto amou.
Não mais vou prolongar esta carta, pois se viesse cá reclamar de tudo o que tenho visto, acredite apenas uma carta não chegaria, mas despeço, desejando-lhe mais um ano de descanso, e que a terra lhe tenha sido leve durante estes anos, e que continue a ser, pois o senhor, tal como Martin Luther King, merece!
De uma filha que só quer fechar os olhos e ao abrir, e não acordar num pesadelo. Pesadelo este, que o futuro revela vir a ser.
Com amor, Márcia
COMMENTS